Termina
aqui a nossa jornada conjunta, uma jornada feita com muita garra,
alegria e esperança. Os quase 30% de votos válidos conquistados
por Marcelo Freixo aqui no Rio de Janeiro têm um significado muito
especial. Eles mostraram que há alguma coisa de novo na política,
particularmente na nossa Cidade. É possível fazer política movido
por ideais, por propostas, por projetos. A campanha demonstrou isso,
por onde passou, mobilizou a juventude, reanimou os movimentos
sociais, resgatou o sentido de lutar por mudanças, foi uma lufada de
vento renovador, diante da velha política fisiológica de sempre.
Lutamos contra a manutenção do ‘status quo’, contra a máquina
da Prefeitura, contra uma desfigurada coligação de 20 partidos,
contra uma campanha rica e apoiada pelo poder econômico, e que teve
ao seu lado apoios importantes como o do ex-Presidente Lula e da
Presidenta Dilma, e mesmo assim nosso candidato conquistou quase 30%
dos votos válidos. Sabíamos que Marcelo Freixo era o melhor
candidato, que ele encarnava o que havia de melhor em nossa
sociedade, mas o resultado alcançado é quase um milagre, diante das
circunstâncias.
Nós,
‘petistas com Freixo’, não nos arrependemos de nossa decisão.
Desobedecendo as decisões do nosso partido na Capital, decisões
essas tomadas sem debate democrático interno, assumimos os riscos de
ousar seguir nossos corações e nossos ideais. Denunciamos as
práticas cada vez mais pragmáticas e fisiológicas que vem
dominando nosso partido, e resolvemos marchar com Marcelo Freixo.
Contribuímos com propostas para o programa de Governo, organizamos
reuniões e comícios domésticos, fomos às ruas para participar das
atividades, aqui e ali nossas bandeiras vermelhas voltaram a
tremular, relembrando históricas campanhas do PT, panfletamos,
discutimos propostas, pedimos votos, demos nossa modéstia
contribuição para conquistar esses 900 mil votos. Fomos muito bem
recebidos, marchamos lado a lado com militantes do PSOL, do PCB,
dissidentes do PDT e de outros partidos que vieram se juntar a esta
jornada de luta e de criatividade. Criamos um blog, lançamos um
abaixo-assinado com mais de 170 apoios, travamos o bom combate,
dentro e fora do PT, cumprimos nosso papel, mostrando aos eleitores e
cidadãos que ainda existe um outro PT, um PT de luta, que tem
compromisso com a ética e com alianças programáticas, que não
abre mão de sua história e de sua identidade. Estamos felizes,
cientes que fizemos a nossa parte.
E
agora, o que fazer de toda esta energia despertada durante a campanha
eleitoral? O que fazer com todo este capital humano e político? Em
primeiro lugar, sempre defendemos que a luta institucional eleitoral
é importante, e deve ser travada, pois ela determinará o tipo de
políticas públicas que predominará no próximo período, na
Cidade, no Estado ou no País. Mas, também sempre defendemos que a
luta institucional eleitoral deve estar subordinada às lutas sociais
mais gerais do nosso povo. Portanto, nossa primeira proposta, a todos
aqueles que participaram e colaboraram com a campanha de Marcelo
Freixo é: continuem alertas, continuem na luta, abracem seu
movimento social, sua associação de moradores, seu sindicato, sua
ong, sua entidade, e porque não, os partidos políticos
comprometidos com mudanças. Uma sociedade é cada vez mais
democrática e mais justa, quanto mais forte é a sua organização
social autônoma.
Em
segundo lugar, é necessário estar alerta e organizado, para
fiscalizar o Poder Público, em particular a próxima gestão da
Prefeitura. Acompanhar os mandatos de vereadores eleitos,
fortalecendo os mais progressistas e comprometidos com o nosso povo,
monitorar as políticas públicas que serão implementadas, denunciar
os equívocos e abusos, a política de remoções, o compadrio com as
máfias empresariais da construção civil e do transporte público.
Nós, do PT, que agora teremos o Vice-Prefeito, e certamente
Secretários Municipais, não podemos abrir mão de pressionar,
cobrar coerência programática, colocar o dedo nas feridas expostas,
denunciar o fisiologismo e o pragmatismo, a possível perda de
identidade de nosso Partido à frente da nova gestão da Prefeitura.
Acabou a campanha eleitoral, mas não acabou a disputa pelo tipo de
Cidade que queremos. Vamos continuar debatendo a Cidade e seu futuro,
e mobilizando a cidadania na luta pelos seus direitos.
Por
fim, fortalecer os partidos, para nós, significa fortalecer o PT, o
Partido dos Trabalhadores. Não, não pretendemos ingressar no PSOL.
Continuaremos aonde sempre estivemos, lutando internamente para
resgatar os princípios e valores que levaram à criação do PT, há
mais de 30 anos atrás, transformando-o no principal partido da
esquerda brasileira. Continuaremos a defender as conquistar dos
Governos dos Presidentes Lula e Dilma, como a distribuição de
renda, a criação de empregos, o combate à miséria, as políticas
sociais inclusivas, a política externa independente, mas não nos
calaremos na hora de denunciar os ‘mal feitos’, os equívocos, as
miopias políticas, as alianças fisiológicas, o excesso de
pragmatismo, os desvios éticos. Nestas eleições, como em outras, o
PT teve vitórias e derrotas, e esperamos que elas sirvam para nos
ensinar algumas lições. O PT foi o partido que teve mais votos no
1º turno, alcançando mais de 17 milhões de votos. Conquistou 626
Prefeituras, no 1º. turno, e outras XX no 2º. turno, entre as quais
a da maior Cidade do Pais, São Paulo. Mas, tivemos derrotas
importantes, também, como os resultados de Porto Alegre, Recife e
Fortaleza. Sem falar no Rio de Janeiro, aonde o partido foi
‘abduzido’ na campanha majoritária, e na proporcional elegeu 04
vereadores, mas apenas 01 deles identificado com a história do
partido. Nosso partido conseguirá tirar as lições mais importantes
desses resultados? Só o futuro o dirá.
O
PSOL sai dessas eleições maior do que entrou. Elegeu seus 02
primeiros Prefeitos, o primeiro do Estado do Rio, Itacoatiara, e o
primeiro de uma Capital, Clécio Luiz em Macapá-AP. A votação do
PSOL no 1º. Turno, não apenas no Rio de Janeiro, mas também em
outras Cidades, como Belém, Macapá, e Niterói, entre outras,
retira o PSOL do isolacionismo, e o coloca como verdadeira opção
partidária dentro do espectro da esquerda brasileira. Entenderá o
PSOL o papel que poderá vir a cumprir, no futuro, junto com os
demais partidos da esquerda brasileira? Entenderá o PT que o PSOL
poderá vir a se constituir num aliado político bem mais confiável,
num futuro próximo, do que partidos como PMDB, PP, PR, PTB, PRB e
outros que tais? Vamos continuar a assistir cenas e posturas de
profundo sectarismo a autofagia no âmbito da esquerda brasileira,
com PT e PSOL buscando se descontruir mutuamente, para alegria dos
partidos de centro e de direita? Ou vamos amadurecer juntos,
corrigindo nossos erros e criando as condições para uma convivência
mais harmoniosa e construtiva?
Estaremos
juntos ou separados, nas próximas eleições, em 2014? Seremos
capazes de construir, aqui no Estado do Rio de Janeiro, uma proposta
de candidatura que unifique a esquerda, e seja capaz de empolgar
corações e mentes da juventude e da militância social, como o fez
a candidatura de Marcelo Freixo nestas eleições? Teremos
generosidade suficiente, e capacidade de engenharia política para
construir esta alternativa comum? Eis aí o desafio. O futuro nos
dirá se esta campanha terá deixado seus frutos, terá nos
amadurecido a todos, oi foi apenas mais uma onda passageira.
O
grupo ‘petistas com Freixo’ se dissolve agora, mas continuaremos
atuando, nas lutas sociais do nosso povo, na nossa Cidade, em nosso
Estado, e no âmbito nacional, dentro e fora do nosso partido, dando
nossa modesta contribuição, cientes de que uma outra forma de
fazer política é possível, com generosidade, princípios e muita
vontade de mudar pra melhor as condições de vida do nosso povo.
Petistas com Freixo